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Artigo publicado no Diário de Leiria em 26 de Novembro 2002

Espeleolo-socorro testado num algar da Serra de Aire e Candeeiros

Mário Pinto

O algar da Bajanca, Porto de Mós, em pleno Parque natural da Serra de Aire e Candeeiros, foi o local escolhido pela Federação Nacional de Espeleologia (FPE) e o governo civil, para a realização de um simulacro de socorro de uma vítima do interior de uma gruta. De futuro a FPE pode vir a ser apoiada em situações de acidentes, pela nova estrututura designada por Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil

A Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE) efectuou, ontem, no Algar da Bajanca, S. Bento, Porto de Mós, um simulacro de espeleolo-socorro no âmbito da iniciativa “Viver em segurança”, inserida num conjunto de visitas e acções realizadas pelo governador civil às instalações das forças de segurança, durante o mês de Novembro.
A simulação realizada em pleno Parque Natural de Serra de Aires e Candeeiros (PNSAC) serviu para José Leitão perceber os passos que têm de ser dados e as dificuldades que enfrentam os espeleólogos, para socorrer uma vítima a muitos metros de profundidade. A operação envolveu dez espeleólogos das associações de Aveiro, Lisboa, Alcanena, Rio Maior e Condeixa, e começou de madrugada com a instalação do material, embora a tarefa de ontem tenha sido facilitada pelo facto do local já estar dotado com parte do material, uma vez que é utilizado pela federação para dar formação aos espeleólogos.
Os elementos devidamente equipados com material adequado à espeleologia, instalaram à boca do algar um tripé e com o apoio de 300 metros de corda e uma maca, içaram a vítima do fundo da gruta - com 35 metros de profundidade -, para o exterior. Uma operação que durou apenas 15 minutos, e, que segundo o presidente da FPE Paulo Rocha, é o tempo que demora a «retirada de uma vítima do interior da gruta numa situação real».
Mas o simulacro serviu, por outro lado, para alguns responsáveis pelas corporações de bombeiros da região e delegados distritais da protecção civil verem, in loco, os passos a dar pelos espeleólogos em situações de emergência, pois a intervenção dos meios técnicos e humanos dos bombeiros só pode ser feita depois da vítima estar em terreno firme.
O simulacro foi aproveitado pelo presidente da FPE deixar alguns alertas às entidades oficiais, para a falta de enquadramento legal dos espeleólogos e a inexistência de uma estrutura que os possa apoiar logisticamente nas operações de resgate.
Segundo Paulo Rocha, quando são chamados para socorrer alguém no interior de locais, onde só eles conseguem chegar, enfrentam alguns obstáculos. A vítima não pode ser tocada sem autorização da autoridade máxima de saúde e os médicos e paramédicos da federação têm algumas dificuldades para justificar as ausências dos locais de trabalho, quando participam nas operações de socorro.
«A nossa proposta é que deveríamos ser apoiados pela protecção civil, uma vez que a maior parte das situações têm directamente a ver com as funções da protecção civil, actualmente sob a alçada dos governos civis», referiu Paulo Rocha, adiantando que caso esse apoio seja dado, ficam ultrapassados alguns dos obstáculos.

José Leitão defende sinalização dos algares

No final do simulacro, o governador civil de Leiria, José Leitão, defendeu a identificação e sinalização dos cerca de 2000 algares que existem no PNSAC, para que as pessoas possam saber os locais onde estão instalados, de forma a evitar acidentes.
«Podemos correr o risco de haver pessoas que não conheçam os locais onde se encontram os algares e podem cair no seu interior», sublinhou José Leitão.
Opinião contrária tem o presidente da FPE, Paulo Rocha, considerando que a sinalização de todos os algares é uma tarefa «impossível», devido à quantidade de cavidades profundas que existe no maciço do PNSAC.
«Para além de ser uma tarefa complicada, a sua sinalização acabaria por ser uma atracção para os curiosos. Neste momento qualquer pessoa pode adquirir equipamento para praticar espeleologia e aventurar-se», explica, adiantando que nos últimos 13 anos registaram-se quatro acidentes, mas este número «pode aumentar», devido ao aparecimento de clubes de aventura e associações de carácter desportivo, que procuram a serra para desenvolver algumas actividades.
O governador e o inspector dos bombeiros da região, Ilídio de Sousa, mostraram-se receptivos a discutir com as câmaras e a FPE o apoio a dar aos espeleologos em situações de socorro, mas a decisão só pode ser tomada a partir de Março do próximo ano, depois de entrar em vigor o novo decreto-lei, que prevê a integração da protecção civil no Serviço Nacional de Bombeiros.